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sexta-feira, 25 de junho de 2010

ENCHENTE EM ALAGOAS E PERNAMBUCO

   Quem viu as imagens de cidades alagoanas e pernambucanas destruídas pelas chuvas nos últimos dias do mês de junho, provavelmente lembrou do desastre provocado pelo tsunami que atingiu a região da Indonésia em dezembro de 2004, deixando mais de 174.000 mortes confirmadas. É claro que, diferentemente das causas do desastre no Oceano Índico, um sismo com epicentro no fundo do oceano, na Região Nordeste as causas são as cheias de rios na Zona da Mata nordestina, causadas pelo excesso de chuvas na região.
Municípios alagoanos foram devastados. Foto Antonio Cruz/ABr
Municípios alagoanos foram devastados. Foto Antonio Cruz/ABr
   Até o dia 23 de junho já haviam sido contabilizadas 44 mortes em toda a região atingida, mais de 600 pessoas estavam desaparecidas e aproximadamente 115 mil estavam desabrigadas devido às chuvas. Algumas cidades alagoanas como União dos Palmares foram levadas pelas águas. O Rio Mundaú avançou cerca de 60 km de seu leito normal, destruindo casas, prédios e toda a infraestrutura da cidade. Segundo levantamentos das defesas civis dos dois estados, pelo menos 74 cidades foram atingidas pelas enchentes. De acordo com dados do governo alagoano, mais de 11.500 casas foram destruídas no estado.
Cidades inteiras foram levadas pela água. Foto: Antonio Cruz/ABr
Cidades inteiras foram levadas pela água. Foto: Antonio Cruz/ABr
Poucas construções resistiram. Foto: Antonio Cruz/ABr
Poucas construções resistiram. Foto: Antonio Cruz/ABr
   Além do problema imediato causado pelas chuvas e, consequentemente, pelas enchentes, seus reflexos - a reconstrução de toda infraestrutura (prédios públicos, centrais elétricas, malha viária, etc.), a reestruturação de casas e do comércio, as doenças como leptospirose, diarreias, o aumento de focos de dengue, entre outros - serão sentidos por meses e até anos.
A reconstrução levará meses. Foto: Antonio Cruz/ABr
A reconstrução levará meses. Foto: Antonio Cruz/ABr
   Mas… e essas chuvas? São “normais” na região? Havia como prever tal fato? Foi apenas uma fatalidade ou existe explicação científica para o desastre? Isso voltará a acontecer? Analisando conceitos científicos, buscaremos respostas a essas questões.
   A costa brasileira sofre influência - comum em áreas litorâneas - de brisas marítimas e terrestres cujo mecanismo de inversão entre o dia e a noite (aquecimento e resfriamento) provoca chuvas diárias e de curta duração. A Região Nordeste do país sofre influência das correntes marítimas quentes - item 5.2 -  (Corrente do Brasil e Corrente Sul-Equatorial) que se deslocam para oeste a partir do continente africano trazendo ainda mais umidade para a costa brasileira.
   O litoral nordestino é uma área de ocorrência comum de ventos de sudeste úmidos que provocam grande pluviosidade entre os meses de abril e julho. Porém, todos os fatores “normais” de circulação atmosférica e correntes marinhas do Nordeste brasileiro podem ser associados às perturbações ondulatórias dos alísios (POA) - alísios são tipos de ventos permanentes influenciados pelo movimento de rotação da Terra e fazem parte da circulação geral da atmosfera -, aumentando a pluviosidade na região.
Chuva orográfica ou de relevo - Fonte: DBK Multimidia/Positivo 
Informática
Chuva orográfica ou de relevo - Fonte: DBK Multimidia/Positivo Informática
   As perturbações ondulatórias dos alísios (POAs) são originadas pela chegada de sistemas frontais vindos do sul, relacionadas às frentes frias (massa polar atlântica - mPa). Dependendo da intensidade das POAs, podem ocorrer períodos extremos de chuvas com volumes pluviométricos de semanas concentrados em apenas 24 horas, por exemplo.
   A grande destruição na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas foi causada pelo aquecimento anômalo das águas do Atlântico Equatorial Sul, pelos ventos alísios de sudeste e pela entrada de uma massa de ar polar de grande intensidade. Ao se deslocar para o litoral nordestino, a massa de ar polar encontra as temperaturas mais elevadas das águas do Atlântico, formando nuvens que são “empurradas” para o continente. Como essas nuvens estão mais carregadas que em situação “normal”, provocam chuvas intensas com longa duração. Assim, o grande volume de chuvas concentrado em curto período de tempo eleva rapidamente o nível dos rios da Zona da Mata nordestina, que saem de seu leito chegando às áreas de várzea onde, como em muitos lugares do Brasil, ocorreu uma ocupação desordenada com a criação de cidades.

   Vários fatores naturais associados foram responsáveis pelo aumento das chuvas e pela ocorrência das enchentes, porém a ocupação de áreas de risco (leito de inundação ou leito maior) potencializou o desastre com perda de vidas humanas.
Cenas de destruição no Nordeste do país. Foto: Antonio Cruz/ABr
Cenas de destruição no Nordeste do país. Foto: Antonio Cruz/ABr
   Dessa forma podemos afirmar que foi um “desastre anunciado”… Eventos naturais extremos como chuvas torrenciais, vendavais e enchentes, são claramente inevitáveis. Já a ocupação das áreas de várzea é secular, e ocorreu muito antes de existirem estudos de risco e impacto ambiental. As cidades tiveram seu desenvolvimento às margens dos rios, de onde eram retirados alimento e água para a sobrevivência. Enchentes naturais de grande volume são inundações que podem ocorrer em períodos de 25 ou 30 anos, porém enchentes de menor proporção são verificadas anualmente. Com isso, as ações para evitar ou minimizar os problemas deveriam ter começado há muito tempo, sendo necessário conscientização da comunidade e, principalmente, dos gestores públicos para o planejamento e adequação do uso e ocupação do solo, além da gestão da água e dos recursos naturais. Ou seja, é necessário, em caráter de urgência, priorizar o planejamento e a prevenção desse tipo de desastre, diminuindo os prejuízos e perdas de vidas, além da ação preventiva custar menos que a ação de recuperação. É preciso recuperar a mata ciliar, criar comitês de bacias hidrográficas, deslocar a população mais próxima do leito principal do rio, delimitando o perímetro de inundação, evitar novas ocupações, elaborar planos diretores para todos municípios, entre outras medidas, para que grande parte da população nordestina, principalmente a mais carente, não fique à mercê da própria sorte, dependendo de “ajuda” (como se dependessem de favores) dos governos municipais, estadual e federal.
   Ao menos, em momentos assim, conseguimos perceber a força da solidariedade do povo brasileiro que, como já aconteceu em outros desastres (deslizamentos no Rio de Janeiro, enchentes em Santa Catarina…), estão se mobilizando para ajudar a população atingida com doações de alimentos não perecíveis, água potável, roupas, colchões e tudo mais que pode minimizar o sofrimento na região.
    Cada um precisa fazer a sua parte. Amanhã é outro dia, e o que está acontecendo hoje em Alagoas e Pernambuco poderá acontecer em qualquer lugar. Ninguém está isento de uma tragédia.

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